sábado, 16 de outubro de 2010

Ao Mestre com carinho


Todos temos mestres inesquecíveis em nossas vidas. Ella teve vários, uns por bons motivos, outros por péssimos motivos, mas todos absolutamente memoráveis.

Ella e sua memória de elefante ainda se lembram da cara da Tia Glória, sua primeira professora no Jardim de Infância Recanto Feliz. Ella teve lá seu primeiro lampejo de genialidade ao conseguir colar um barbante exatamente em cima da linha pontilhada, recebendo um efusivo "Parabéns" de tia Glória. Isso aumenta muito a auto-estima de um ser humano! Mas uma crítica também pode destruí-la.

Ella já sabia ler aos 4 anos, e quando chegou à Classe de Alfabetização, o tal C.A, já era cascuda e metidinha a gênio(sim, Ella é velha e fez C.A e não Educação Infantil, ok?). Mas sua professora não achou bom que Ella tivesse pintado de verde água a bandeira do Brasil, e disse em alto e bom tom que Ella não sabia ver cores. Ha, ha, ha! Ella sempre soube qual seria a tendência fashion! E o verde-água sempre teve mais destaque nas vitrines que verde bandeira horrendo.

Como todos os 51 leitores já sabem, Ella era CDF e não esquece de sua primeira (e única!) nota vermelha no boletim. Matemática, sempre essa maldita! Professor Monteiro era um mestre adorado, mas manchou o boletim e a honra de Ella com uma nota 5 em sua matéria. Ella chorou dias e noites e achou que Mamãe fosse matá-la por esse crime hediondo.Ella não sabe ainda porque teve que aprender Trigonometria, mas entendeu para que serve um número negativo: mostrá-la que está no Cheque Especial...

Ms. Clementine era uma teacher que se vestia com roupas dos anos 50, cheirava a naftalina e fez do Inglês um diversão na vida de Ella. Dona Elena ensinou Ella a amar análise sintática, porque quem ensina, ensina alguma coisa, o que lhe torna verbo transitivo direto.

Se tivessem explicado a Ella a função dos espelhos esféricos, talvez Ella tivesse tido mais consideração às aulas de Física. Ou se tivesse prestado atenção nas Reações de Neutralização e Sais, Ella não erraria ao escolher seus shampoos. Mas ninguém ensinou as aplicações práticas da Física e da Química, e Ella se lixava com que velocidade um trem bateria no outro, a não ser que passasse o acidente no Jornal Nacional.

Ella achava História uma delícia! Sempre quis saber da vida dos outros, e as aulas do professor José que amava distribuir Zeros de presente a seus alunos, era quase uma Revista Caras para Ella. Da mesma forma, a Geografia era um globo de possibilidades em mostrar os lugares que Ella visitaria um dia, o que fez Ella decorar bandeiras, entender de relevo e clima e saber quais fronteiras atravessaria quando crescesse.

Decorar a Canção do Expedicionário e saber a letra dele até hoje ocupa o HD de Ella desnecessariamente. A não ser que você participe do "Show do Milhão" ou do "Um contra Cem", ninguém lhe pergunta a letra, os autores e o ano em que foi composto o Hino à República.

Mas a o grande amor de Ella pela Literatura fez de Irmã Marília, uma freirinha ranzinza e malvada, sua favorita. As figuras de linguagem e as escolas literárias, os livros obrigatórios, seus autores e suas obras eram um bálsamo no dia escolar de Ella.

Ella não tem saudades da escola. Não tem saudades de fazer provas, de decorar coisas inúteis, de fazer dever de casa, de ter só 20 minutos de recreio...Mas Ella gostaria muito de ter oportunidade de voltar lá atrás um dia e dizer a cada uma dessas pessoas o quanto elas foram fundamentais em sua vida. Se Ella pudesse fazer isso hoje, diria apenas: Obrigada sinceramente, Mestre!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Criancices


Amanhã é Dia das Crianças e Ella não é mais uma delas...aliás, desde os 9 anos, quando ficou mocinha precocemente pela maldita menarca, Ella não faz mais parte dessa invenção do mundo capitalista. Imagine uma garotinha de 10 anos querendo um presente e alguém lhe diz: "Você não é mais criança, já é uma mocinha...". Humpf! Se é assim, me dê logo um cartão de crédito e as chaves do carro...

Ora, ora...se você não é mãe, pai, criança ou namorado (a) de alguém, fica fora de uma ou duas festas do comércio: resta-lhe o seu aniversário e o Natal apenas. Ella sugere que haja o dia do (a) filho (a), porque isso você é SEMPRE de alguém, mesmo que seus pais já se tenham ido (e a não ser que sua chocadeira seja de última geração).

Na época de Ella os presentes nem eram assim tãooooooooo sofisticados. Amava aquelas bonequinhas de papel que trocavam de roupa. O must da engenhosidade era a "La, Lé, Li, Ló,Lu Patinadoooooooora" ou o robô Arthur da Estrela. A gente gostava mesmo era de jogos que são imbatíveis até hoje: Banco Imobiliário, Detetive, War... Pra quem colecionava: Moranguinhos e Fofoletes, Susies, Falcons, Playmobil...Hoje criança quer boneca que arrota, faz xixi e faz cocô! Espere a criança crescer e ter um bebê de verdade pra ver que merda é limpar isso...

Ella se compadece das crianças bombardeadas por propagandas coloridas e sofisticadas. Se Ella desejava uma Melissinha ou um "Ortopé, ortopé tão bonitinho", imagine se não iria morrer por uma sandália da Hello Kitty com pochete ou pela bota da Barbie rosa cheia de purpurina (sorry, Glitter, purpurina é muito vintage). Até meninos, que costumavam não ligar a mínima para nada que não fosse carrinho e pipa, hoje almejam tudo do Ben 10, do Naruto, do Hot Wheels...

Crianças podem ser cruéis, como sabemos. Aquela máxima da criança mimada do "eu tenho, você não tem" atormentou a infância de Ella. Ella observa o comportamento consumista das crianças de hoje (e sua falta de limites de desejos) e se pergunta onde foi parar o "Não, isso papai não pode dar". Ella vê os pais querendo saciar em seus filhos suas vontades não satisfeitas, e se questiona sobre que tipo de adultos estão sendo construídos: os que tudo podem, dividido em 12 vezes sem juros.

Pensando bem, é até bom que Ella não seja mais criança hoje, porque seria aquela que
pede um iPod e receberia um : Ih, não pode....