quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Trocando a rebimboca da parafuseta


É fácil enganar uma mulher. Mais fácil ainda se ela está enguiçada, na hora do rush, atrasada (pra variar) e de TPM. Qualquer mecânico de beira de estrada te convence a dar chupeta em bateria porque você está na mierda e depende dele àquela hora.

Ella não faz a menor idéia onde ficam o cabeçote, os pistões, as válvulas e o arrefecedor. Ella bota gasolina, troca o óleo, bota água (não sabe onde, mas os rapazes do posto perguntam se é pra dar uma olhadinha na água e Ella deixa). De vez em quando Ella bota até o carro pra lavar (mas só quando está muitíssimo folgada de agenda ou tem um evento com manobrista pra não passar vexame). Mas não adianta: carro é carro e, como um namorado,dá problema.

Ella tenta acordar cedo pra ver o Auto-Esporte e fica com inveja da Silvia Garcia porque ela sabe tudo de carro. Uma mulher que consegue trocar um pneu sozinha pode dominar o mundo, porque afrouxar e apertar aqueles parafusos da roda não são pra qualquer um. Ella tem orgulho de saber onde ficam o macaco, o triângulo e o step, só não sabe o que fazer com eles na hora que precisa.

Na hora de fazer a revisão, Ella não fica embaixo do carro suspenso naquele elevador ne morta! O mecânico começa a mostrar coisas que você não vai entender mesmo se estão gastas ou empenadas. Ella já cansou de ser engambelada: para fazer um alinhamento e um balanceamento, disseram que Ella tinha que trocar a balança e a ponteira. What porra is this de balança e ponteira? A balança sempre está quebrada para Ella! Nunca diz o que Ella quer ouvir mesmo...Numa troca de óleo simples diagnosticaram uma suspensão avariada e necessidade de troca dos amortecedores...Sorte que Ella não tinha dinheiro e resolveu perguntar para seu super mecânico de confiança! Aliás, mecânico de confiança é tão necessário quanto um batom e uma camisinha na bolsa.

E na hora de trocar de carro? Que dúvida cruel! Além de escolher a marca e a cor que combinam com nosso biotipo e com o tom de nossa bolsa, temos que escolher quantas válvulas, quantos cavalos... Pra quê um carro com tantos cavalos se a cidade está cheia de radar e Ella não pode acelerar a mais de 120 km/h? Se quisesse mais cavalos, Ella compraria uma diligência e não um carro.

Carro é realmente uma família! E família daquelas bem gastadeiras. Os custos não acabam nunca:seguro, combustível, manutenção e multinhas inocentes.

Mas espere! Ella está tendo uma visão de seu passado desafortunado: Ella chiquérrima esperando ônibus na chuva e tomando banho de lama, Ella cansadíssima tendo que escutar gritaria de estudantes, Ella sendo sarrada por toda sorte de peões de obra, Ella sobre seus saltos e exausta tendo que dar lugar aos idosinhos,Ella se atrasando porque o ônibus não passa ou porque o motorista é lerdo...Cruzes! Ella prefere Lei Seca, gente estressada, gente barbeira, trânsito caótico...

Horário Eleitoral Gratuito: paguem-me para ver


Ella acha um desperdício atrasar a novela e seu programa de rádio favorito por causa do horário eleitoral gratuito. Se é gratuito, coloca de madrugada que não tem quase anunciantes. Quem estiver muito interessado em saber as propostas de Tiririca para o Congresso Nacional que ligue a TV às duas horas da manhã.

Sim, é obrigatório, diz o TSE. O povo tem o direito de saber as propostas (sempre mentirosas)dos candidatos, mas o povo tem direito de não querer ouví-las também. Para quê eles gravam esses programas? Basta pegar um videotape das eleições anteriores. São sempre os mesmos candidatos (e seus descendentes se multiplicam feito Gremlins), as mesmas promessas e os mesmos formatos. Ella se arrepia quando eles gritam: "Você me conhece!". Eu? Nunca te vi, colega! Não sou cúmplice de suas maracutaias e nem ganhei uma dentadurazinha de presente.

Ella se irrita com a sujeira que os candidatos fazem:antes da eleições com aqueles santinhos, plaquinhas e buzinaços, e depois das urnas, quando esquecem seu compromisso. Ella tem asco desses Centros de Assistencia Social eleitoreiros, que fazem a população se sentir na obrigação de retribuir a "gentileza" concedida, numa demonstração clara de "rouba mas faz".

A tal da Ficha Limpa é uma grande piada, e para não ter concorrência, o TSE proibiu os humoristas de cumprirem sua missão. A Ficha Limpa é apagada numa enxurrada de liminares. Liminar,para quem não sabe, é tipo um Liquid Paper no passado dos candidatos. É uma mão de tinta que dura até as eleições. Depois sai.

Ella tem uma proposta ao TSE para novas leis eleitorais: Big Brother Político. Que tal filmarmos os candidatos por meses em seu dia-a-dia? Como em qualquer reality show, eles ficariam confinados sem acesso a viagens pagas por nós, sem acesso a auxílio vestuário, sem acesso a mordomias. O povo acompanharia minuto a minuto as panelinhas se formando,digo, as coligações. Gincanas para eleger "Anjos" que fizessem mais ações sociais efetivas. Paredões semanais para eliminarmos cada político que saísse dos padrões de retidão moral ou que não apresentasse mudanças benéficas à sociedade. So então, na final, o paredão seria através da urna eletrônica, com apenas 2 candidatos para cada cargo. Seria bem mais divertido e Ella tem certeza que o povo participaria da política de maneira ativa e apaixonada. Não ia ter pra ninguém no IBOPE: o Horário Eleitoral ia ser campeão de audiência.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Programação Indígena I - Shopping Center no fim de semana


Caras amigas. Vocês sabem que Ella ama um shopping. Vazio. Tipo segunda-feira às 10 h da manhã, logo que abre. Corredores imensos para que desfile toda sua graça e elegância, um burburinho que dá para ouvir até os "toc-toc" de seus saltos. Vendedoras disponíveis e ansiosas para atendê-la prontamente. Total liberdade para suas sacolas de compras não serem esbarradas por gente afoita e sem educação.

No entanto, ao entardecer as coisas vão mudando...ao se aproximar a sexta-feira o ambiente vai se tornando pesado, denso e começam a aparecer pessoas. Muitas. Milhares. Começa a se formar um tsnunami de gente. Dependendo do shopping, gente feia, muito feia. Os sensíveis olhinhos de Ella começam a embaçar com a poluição visual. Há uma invasão de "colegas nem" e suas leggings com salto de acrílico, adolescentes em bandos que não compram nada além de um MacLanche Infeliz, famílias inteiras para fazer crediário nas Casas Bahia e no Ricardo Eletro...há um dialeto comum a todos, cujo entendimento só é possível em altos decibéis.

O estacionamento é uma verdadeiro inferno de Monzas, Santanas e Chevettes despejando um número de pessoas bem acima de sua capacidade máxima. Encontrar uma vaga é mais difícil que conseguir uma Bolsa Família. E o pior: paga-se por isso.

Cria-se um novo tipo de engarrafamento: o de escadas rolantes. Se você tem hora para ir a um cinema, por exemplo (Ella desaconselha, mas se você quer mesmo ir...), programe-se para chegar duas horas antes: uma hora para achar vaga no estacionamento e uma hora para a fila do cinema (e se quiser comprar as exorbitantes pipocas, mais caras que o ingresso, adicione mais meia hora). Porém (ah, porém!), se o calendário acusar a proximidade do Natal, dia das Mães e dia dos Namorados, dobre sua previsão.

Há um momento de sagacidade nesse passeio glorioso - conseguir uma mesa na praça de alimentação. Mais divertido que um game do Playstation, parece aquele joguinho de Detetive, onde olhos de lince tentam captar quem vai se levantar primeiro, como urubus no muro de cemitério. E então, o jogo evolui para a Dança das Cadeiras. Consegue o lugar quem for mais ágil e mais rápido. Obviamente, vocês NEVER, NUNCA, JAMAIS (em francês, leia-se jamé) verão Ella numa situação dessas, disputando lugar para beber cerveja em copos plásticos, carregando bandeja com comida fria e esperando número de atendimento no Girafa's.

Se você precisar comprar algo de urgência num shopping no fim de semana, faça meditação transcedental antes de ir, leia cabala, desenvolva paciência e auto-controle emocional. Ou frequente shoppings como o Fashion Mall, onde você não consegue comprar nada, mas pelo menos é vazio. Se você não precisa MESMO comprar nada, Ella recomenda que troque esse programa silvícola. Fique em sua oca que é mais segura.

Mistérios da Natureza.: Por que as pessoas tiram foto com pose perto da escada rolante do shopping?

sábado, 7 de agosto de 2010

Hoje eu queria abraçar meu pai


Hoje eu queria abraçar meu pai como sempre fazia. Levantar, sem me importar de ser domingo, às seis da manhã pra ir à Missa com ele só porque era Dia dos Pais e eu pediria a Deus que o protegesse.

Hoje eu queria abraçar meu pai e vê-lo enchendo a cara de espuma para parecer o Papai Noel e me fazer rir. Queria sentir o cheirinho do Leite de Rosas que ele colocava quando acabava de se barbear. Queria espremer seus cravinhos e cortar suas unhas com a devoção que eu sempre fazia. Respeitaria sua única vaidade sem julgá-lo ou condená-lo só pra ele sentir-se seguro e ainda assim daria pitacos nas suas roupas antes de sairmos.

Hoje eu queria abraçar meu pai na cozinha enquanto ele fazia o café mais gostoso e cheiroso do mundo. Queria discutir as notícias da manhã do radinho de pilha, mesmo que o rádio estivesse fora de sintonia. Queria sentar à mesa com ele para vê-lo tomar seu café da manhã com a calma de um monge, e roubar uma colherada do seu prato de mingau.

Hoje eu queria abraçar meu pai e varrer as folhas do quintal de casa com ele. Queria passear na feira, mesmo sabendo que ele me traria os morangos que eu gosto. Não brigaria com ele por causa do colesterol a cada vez que resolvesse preparar uma rabada ou uma feijoada.

Hoje eu queria abraçar meu pai na hora que o Vasco fizesse um gol, mesmo sabendo que ele não conseguiria nem gritar de tanta emoção. Não implicaria com uma televisão e dois rádios ligados ao mesmo tempo, tampouco com a quantidade de reprises, videotapes e debates sobre o mesmo gol. Levaria sua cervejinha para que ele não perdesse nenhum lance, e me assustaria sempre que o visse chutando o ar como se estivesse em campo.

Hoje eu queria abraçar meu pai enquanto ele cantasse "Naquela mesa" imitando o Nelson Gonçalves ou quando ele inventasse as letras de músicas que ele não sabia. Ajudaria a fazer suas palavras cruzadas e a recortar sua tirinha de quadrinhos favorita. Fingiria que não via ele roubando no jogo de buraco como se fosse uma criança levada.

Hoje eu queria abraçar meu pai enquanto ele contasse suas piadas repetidas e as histórias que inventava só pra me fazer rir. Queria que ele lesse todas as coisas que escrevo e gostasse de todas elas, e que ficasse orgulhoso de mim pelas coisas que faço.

Hoje eu queria abraçar meu pai e agradecê-lo por ter sido meu companheiro durante o tempo que estivemos juntos, dizer a ele o quanto sinto sua falta e sua presença ao mesmo tempo. Dizer o quanto ele me ensinou a servir sorrindo e a compartilhar sem cobranças. Hoje eu queria falar tanta coisa, mas ficaria feliz em apenas abraçar meu pai.