terça-feira, 6 de abril de 2010

Alagados - Molhando a escova


Caros correspondentes internacionais, Ella sobreviveu à água que submergiu sua linda cidade.
Hoje Ella pegou seu carro anfíbio o “Hammer-Ella” (não é remela, pelo amor de Deus!) para buscar seu iate fúcsia “Lady Ella” que fica ancorado na Marina da Glória. Deu de cara com os pedalinhos em formato de cisne da Lagoa, que resolveram dar um rolé, mas também ficaram engarrafados na Epitácio Pessoa.
Ella nem imagina o sofrimento dos que estão perdendo casas e pessoas, mas vamos combinar, a população precisa aprender que tem lixo que é apegado aos seus donos e volta pra eles...A quantidade de lixo que se joga pela janela é diretamente proporcional à desgraça experimentada hoje pelos cariocas. Ella se solidariza com a dor dos que perdem tudo, mas faz um apelo para que saiam das encostas! Não vivemos em Capri nem na Riviera Francesa!
Mas voltando ao caótico retorno para casa de 2ª feira, Ella também molhou sua escova e teve que meter seus adorados sapatinhos numa aguinha barrenta. Não há guarda-chuva que guarde tanta água (nem os” familiões”, aqueles gigantescos, estilo Mary Poppins que os camelôs vendem por R$10,00 aos primeiros sinais de chuva). E se é chuva de vento: ”fechem os guarda-chuvas”! Um perigo aqueles furadores de olho pelas calçadas! Me digam por que uma pessoa, com água pela cintura, anda de guarda-chuva aberto ? Que parte do corpo ainda não está molhada nesta situação, gente?
Ella cuida de seus bens. Não põe seu corpinho na água leptospirótica nem a pau! E pegou carona num bote da Defesa Civil para voltar ao lar. Vontade de fazer pipi, de comer, de ver a novela das oito. Mas fechou os olhos, se imaginou numa gôndola em Veneza e jurou que o bombeiro era o George Clooney.Cinco horas para chegar em casa! Dava para ir a Buenos Aires comprar uns Alfajores nesse tempo! Mas Ella chegou.
Após uma noite saída dos livros de terror, onde os ventos uivavam e as águas não paravam de rolar, Ella ligou a TV e viu que era o feriado que ninguém esperava, nem desejava. Mas já que estamos em casa, sem trabalhar, porque não nos render àqueles prazeres proibidíssimos? Voltar para o edredon quentinho, ler o jornal na cama até tarde, encontrar TODOS os amigos de sua lista no MSN para bater papo, ler aquele livro atrasado, almoçar em casa... À tarde, uma programação intensa: ver ”Uma Linda Mulher” encolhida no sofá, estourar uma pipoquinha e comer brigadeiro de colher como se não houvesse amanhã. Diferente de um domingo, diferente de um feriado, este parece um daqueles dias em que não íamos à aula e ninguém nos dava falta na lista de chamada...

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