domingo, 4 de abril de 2010

O medo da Páscoa


Feliz Páscoa, caríssimos seguidores!
Ella não gosta muito do feriado da Semana Santa. Na verdade Ella nem ama chocolates (mesmo!). Ella foi criada em colégio de freiras e todo esse pedaço pós-Carnaval era de muita culpa. Ella sentia mais culpa na infância do que se comesse hoje trilhões de ovos de chocolate. Ella era acusada de ter matado Jesus. Ele morreu por sua causa! – apontavam as freiras. “Pensam que Páscoa é chocolate?” “Ele foi crucificado por sua causa”.

Custava ter didática para explicar direito? Ella se defendia mentalmente: “Mas eu nem estava lá, não era nascida, Jesus é maior que eu”. Sim, explicavam que a Páscoa comemorava a Ressurreição de Cristo, sua vitória sobre a morte, mas só depois de mostrarem filmes horríveis de todo o flagelo e a crucificação (só pra explicar: para uma criança de 7 anos!). Ella nem dormiu à primeira vez que assistiu o tal filminho. Ficava esperando Jesus se vingar dela durante o sono. E Ella assistiu o filme durante toda sua vida escolar até se adaptar àquilo e saber que Jesus era um cara bacana e que não se vingava de ninguém.

Certa vez, Ella fora fazer uma encenação da Via Crucis. Seria o homem que auxiliava Jesus a carregar a cruz. Ella devia ter uns 10 anos e pensou que aquela seria sua Redenção. Afinal, daquela história toda, pouca gente era legal, e Jesus ia ser eternamente grato a Ella.

Depois que Ella foi para a Catequese, começou a parte da confissão. “É época de confessar, de se arrepender de seus pecados”. Que pecado horrível pode ter uma criança de 9 anos que não seja contar uma mentirinha aqui e ali para a mãe? Ella tinha dor de barriga antes de confessar. “Se eu conto a verdade pro Padre, ele vai pensar que eu sou uma pessoa horrível porque eu dei cola para minha coleguinha e fui malcriada com meu pai. Mas será que Deus vai descobrir que eu tive vontade de beijar o lourinho na 5ª série na boca? E que vi umas fotos de gente pelada na revista que tinha na sala de estar do médico? Não vou contar, só vou contar a parte que respondi pro papai, essa tem salvação”. Ella filtrava os pecados. Sobre os cabeludos, decidiu que ia falar direto com Quem mandava. E vinham as penitências. E vinham depois as comparações das penitências entre os coleguinhas: “20 Ave-Marias? 20 Pai-Nossos?” Caraca! - Ella pensava- esses aí estão piores que eu...

Ella gostava do Domingo de Ramos, mesmo a Missa sendo compriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiida com um padre que só falava espanhol. Achava que os galhinhos queimados em dia de chuva REALMENTE impediriam relâmpagos e trovões. E saía toda feliz da igreja com seu Raminho pára-raio.

E a Sexta-Feira Santa? Não podia ouvir música, não podia brincar, era um dia de tristezas, de escuridão. Ella não entendia o porquê, afinal, todo mundo sabia que Jesus ia Ressuscitar depois mesmo. E quem não sabia, podia ver na TV, porque era dia de passar o filme “Jesus de Nazaré” do Franco Zefirelli. E não podia comer carne. Ella não sabia que presunto era carne. Distraidamente pegou uma fatia para comer e, quando foi levá-lo à boca, levou um tapa na mão que fez o presunto voar longe. Ella só gostava da Sexta-Feira Santa por causa da canjica e da Sopa Paraguaia que sua família fazia (um bolo de queijo, cebola e milho maravilhoso que só tinha nessa época).

Enfim a Páscoa. Ufa! Aí sim, a felicidade chegava. Mas só chegava depois da Missa. Então a família se reunia, trocava chocolates, comia bacalhau e Ella ficava aliviada de terem esquecido quem tinha sido a culpada pela morte de Jesus.

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