Ella pode ser qualquer mulher: ama liquidações, prosseco, viagens, amigas e finais felizes. É chique, inteligente, descolada, desbocada, independente, mas romântica ao extremo. Chora quando vê “A Casa do Lago” ou ouve “O que é o amor” da Maria Rita. Ella sofre porque ama comer doces e tem que ficar magra. Sofre de celulite e de paixonite agudas.
sábado, 3 de abril de 2010
Velha Infância - Parte 2- Eu tenho, você não tem
Ella não era uma menina pobre de marré-deci, mas a inflação beirava os 800% ao mês e tudo era muito comedido: um frango assado no domingo dava para uma família de 4 pessoas e a “Coca-litro” dava para o almoço, para o jantar e ainda guardávamos para a 2ª feira com um garfo ou uma colher na boca da garrafa para não sair o gás!
As compras de início de ano enchiam Ella de ansiedade. A expectativa daqueles cadernos branquinhos, lápis sem a bundinha comida, etiquetas e uniforme novos davam a sensação de Reveillon. Mas passava rápido a felicidade...mamãe de Ella não entendia que canetinha de 6 cores e lápis de cor de 12 cores não davam asas à sua imaginação como as canetinhas de 12 e os lápis de 36. Que lápis preto e lapiseira 0,7mm não tinham a mesma escrita!
Ella usou cadernos brochura que tinham o Hino Nacional no verso enquanto algumas amiguinhas abastadas exibiam os lindíssimos Caderflex ou cadernos-espiral com capinhas lindas da Tilibra. Sorte que Ella era excelente aluna e seu caderno brochura-brochante (encapado de papel pardo e sem orelhas) era disputadíssimo, pois estava sempre completo e com milhões de “Parabéns, continue assim”.
O sapato 752 da Vulcabrás, com cadarços não era o estilo boneca sonhado por Ella. E como duravam! Outra grande decepção era o Conga azul marinho testão (nem me fale que isso é vintage, porque Ella tem trauma!) . O sonho era o Bamba branquinho ou os inacessíveis Montreal-chulé (aquele marrom que aparecia no Sílvio Santos). Sorte que no colégio de Ella os Kichutes eram proibidos para não arranhar o chão encerado das freiras!
A hora da merenda também tem memória. Uma lancheira plástica vermelha foi o primeiro acessório vermelho de Ella! Cabiam o Mirabel ou o pão com goiabada... ??? As riquinhas levavam pão com presunto, mas presunto lá na casa de Ella era só no pagamento de papai, o real era a deliciosa mortadela mesmo. Nos dias de glória, mamãe chiquérrima de Ella dava dinheiro para merenda (sim, mamãe de Ella era chiquérrima, escovada, usava casacos 7/8, trabalhava e dirigia!). O troco por devolver a garrafinha de Coca-Cola de 200 ml eram balas Juquinha que a gente comia com papel e tudo!
Quando as pastas escolares de couro horrendas começaram a dar lugar a mochilas de nylon, papai de Ella demorou a entender que não eram mochilas de acampamento. A primeira mochila de Ella ia de seu pescoço até o fim das coxas e eram feitas de lona militar.
Nessa época, Ella não ligava muito para roupas e sapatos (naquele tempo a única vida social de uma criança fora da escola era no quintal brincando....). Andava de uniforme ou com conjuntinhos de algodão da Citycol e da malharia Mena comprados nas banquinhas.
Mas Ella sempre se preocupou com sua beleza. Usava a Seiva de Alfazema Phebo que sempre ganhava de aniversário de alguma tia velha. Usava Creme-C Pond’s da mamãe que ficava na penteadeira dando mole. Amava ira ao salão aos sábados ver mamãe pintando as unhas de vermelho-encarnado e fazendo escova estilo Farrah-Fawcett. O cabelo de Ella não era lá essas coisas...enquanto suas irmãs tinham longos e lisos cabelos fio-reto , Ella tinha caracóis curtos. Às vezes, piolhos ficavam debaixo dos caracóis de seus cabelos. Eram mortos com pente fino e Pruritrat (ou aquela amarela latinha de Neocid!!!!). Nada domava aqueles cachos, só o creme-rinse Neutrox amarelo para o dia-a-dia e Neutrox 2 rosa para os dias de praia. A praia era acompanhada do óleo Johnson com urucum para ficar bem bronzeada e o excesso era minimizado com pasta d’água ou Caladryil rosa. Câncer de pele e envelhecimento não estavam na ordem do dia. Descascar era até charmoso!
Caríssimas, como se vê, certas coisas do passado justificam nosso presente. Os traumas do bulling “eu tenho, você não tem” das amigas lisas e louras de escola sempre ecoaram na cabeça de Ella. Ella evoluiu e pode pagar (quase sempre) por seus sonhos de consumo. Mas desde quando não podia mesmo, sempre soube o que era bom.
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O sanduiche de pão com presunto da cantina era meu sonho de consumo na escola...e o cabelo de algumas amigas tb!!!!!
ResponderExcluirNão era, amiga? Um pão seco pra cacete! Sem Manteiga! Ainda bem que Ella tem amigas deste tempo difícil que se solidarizam com seus traumas! kkkkk
ResponderExcluirCris, Ella vai tirar um dia só para falar das "agenas" coloridas e recheadas! Um beijo