sábado, 3 de abril de 2010

Clássicos da Literatura e os livros que Ella escondia embaixo da cama


Ella sempre amou os livros. Sempre foi estimulada à literatura, desde pequena. A leitura obrigatória de um livro por bimestre era ansiosamente aguardada por Ella. Não era dever, era prazer.
Pedro Bandeira, Ruth Rocha, Lygia Bojunga, Ziraldo e Ana Maria Machado eram seus amigos de infância, e suas obras: “ Droga da Obediência”. “Marcelo, Marmelo, Martelo”, “A Bolsa Amarela”, “O menino maluquinho” e “Menina Bonita do Laço de fita”, seus grandes companheiros.
Ella conheceu Fernando Sabino pessoalmente. Fora convidada para ir à sua casa entrevistá-lo num trabalho escolar. Ella não dormiu uma semana de ansiedade e só queria dizer que “O menino no espelho” era lindo e queria aprender a voar como Odnanref.
E vieram as aulas de Literatura. Ella tinha uma professora-freira que amava os livros também. E por causa dela decorou “Marília de Dirceu” de Tomás Antônio Gonzaga. Entendeu o Arcadismo, o Barroco, o Romantismo, o Realismo, o Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo. E por causa dela passou a amar Machado de Assis. E por causa dela gabaritava as provas de Redação e Português e Literatura do Vestibular.
Mas Ella também tinha um ponto fraco. Como percebem, caras amigas, Ella teve uma infância suburbana. E gostava das coleções Julia, Sabrina e Bianca. Havia também as de Barbara Cartland, mas essas eram histórias de 1800 e não diziam as putarias nas entrelinhas que Ella gostava de ler.
Pode-se dizer que foram esses livros que deram a Ella as primeiras noções sobre sexo. Passara as férias da pré-adolescência trocando livros com suas irmãs mais velhas e sua prima. As 4 ficavam a tarde inteira sentadas na casa de praia, em silêncio sepulcral, tentando decifrar onde ficava o monte do amor.
Um dia, Ella, que era caçula do grupo, perguntou: “O que é o ápice do prazer?”. Suas irmãs riram, mas também não souberam explicar que isso se chamava orgasmo na vida real e que o membro rijo e ereto penetrava no monte úmido e no final dava nisso. Mas não havia uma trepadinha dessas que dão errado. Os dois gozavam juntos (e sempre), tinha um luar derramado sobre a cama ou os dois estavam presos numa cabana em uma noite escura e chuvosa ou num pôr-de-sol de uma praia deserta.
As histórias eram sempre as mesmas: O homem alto, másculo, atlético, viril, moreno, de olhos azul-cobalto, rico, bem-sucedido, disputadíssimo por outras mulheres e invariavelmente sem coração levava o livro inteiro para se apaixonar pela moça frágil, cabelos lisos e longos, dócil, quase sempre virgem que ia trabalhar para ele e que sofria até o penúltimo parágrafo. Mas o deus-grego só se apaixonava depois de comê-la primeiro. Não rolava um carequinha ou um barrigudinho com olhos castanhos... E os cenários? Grécia, Paris, Havaí... Óbvio! Quem se apaixonaria em Bangu ou no Bixiga?
Ella ficou com essa imagem de perfeição por toda sua vida. Já passou por mais vilões do que por heróis. Os cenários nunca foram lá muito paradisíacos e os finais, até agora, estão longe de serem felizes. Mas Ella continua lendo. Livros mais maduros, histórias mais reais e prepara ainda a biografia da história de amor mais linda de todos os tempos.
Ps.: Post dedicado à Sapa que também lia porcarias como Ella...rs

Nenhum comentário:

Postar um comentário