Ella pode ser qualquer mulher: ama liquidações, prosseco, viagens, amigas e finais felizes. É chique, inteligente, descolada, desbocada, independente, mas romântica ao extremo. Chora quando vê “A Casa do Lago” ou ouve “O que é o amor” da Maria Rita. Ella sofre porque ama comer doces e tem que ficar magra. Sofre de celulite e de paixonite agudas.
sábado, 3 de abril de 2010
Velha Infância - Parte 1 - Diversão e Arte
Ella acordou nostálgica hoje! Alguém falou uma palavrinha simples: Cremogema! E a musiquinha da propaganda começou a ecoar pelos ouvidos: “Crem, cremo,cremo,cremogema é a coisa mais gostosa desse mundo, a mamãe queeeeeeer o melhor pra gente, crem,cremo,cremo,crê-mo-ge-má!” O gostinho do mingau veio imediatamente! E puxou junto a musiquinha do “Roda-baleiro, atenção...” das balas Kids de leite com o baleiro rodopiando.
Ella e seu irmão espalhavam Playmobill Apache, Bombeiro, Hospital, Circo e Piratas pelo quintal e, quando a cidade ficava pronta, a brincadeira ficava sem graça.Ella tinha uma Susi cabeção (a Barbie não era para seu bico). Susi namorava o Falcon, aquele boneco másculo e ruivo de barba.
Outro hobby de Ella eram as coleções: papel de carta, figurinhas do “Amar é”, bonequinhas de papel para trocar as roupas, Moranguinhos, Fofoletes e gibis da Turma da Mônica.
No verão, as piscinas “Toni” eram a “alegria da garotada”. Não se tinha notícia de buraco na camada de ozônio e era possível ficar numa praia até as 14 horas jogando frescobol ou nas bóias feitas de pneu de caminhão. O sol era amigo. E chamava o Natal. E o Natal tinha a magia do “Não esqueça minha Caloi”. Não colou. Ella sonhava com a Caloi Ceci (que tinha uma cestinha) e teve uma Monark Monaretta.
Também no Natal tinha o jingle da Varig: “Estrela brasileira, no céu azul, iluminando de norte a sul (...)Varig, Varig, Varig”. Ella não andava de avião, mas sua tia mais chique trazia as máscaras de dormir e as nécessaires chiquérrimas da Pan-Am para as sobrinhas. Por que hoje esse glamour acabou?Só dão horrendas barras de cereais?
A moça do Yakult batia na porta de casa para vender as garrafinhas e iogurte só se chamava “Danone”. As festas infantis eram em casa mesmo, com cajuzinhos, brigadeiros. Alguém me explica por que faziam docinhos de queijo? Íamos com o maior apetite achando que eram beijinhos de coco e eram de queijo! Argh!
Só tínhamos 5 canais de TV. De manhã, a Paula Saldanha apresentava o Barbapapa no Globinho e o Bozo passava o Pica-Pau (que Ella vê até hoje). Tinham ligações ao vivo para jogar Batalha Naval (pow,pow,pei!), Bozo Corrida (“Vai malhado, vai malhado!”) e Bozo Memória (Ella ainda sabe a musiquinha "5851385 é o telefone espertinho do Bozo”). Ella tinha medo da Vovó Mafalda, do Salsifufu e do garoto Juca.
Às 5 da tarde, Ella voltava correndo da escola para assistir o Sítio do Pica-Pau Amarelo, emendava no Daniel Azulay e só acabava no Tom e Jerry às 19 horas. Depois era hora do jantar. Todo lazer era cronometrado.
Antes de cada programa aparecia um documento da ditadura dizendo qual era a faixa etária recomendada. Mamãe deixava Ella assistir fora de sua faixa-censura Baretta, Kojak, Casal 20, Chips, Ilha da Fantasia (amava o Tatu gritando: Chegou o avião, chegou o avião!) e Panteras. Ella sempre achava que ia ser a Kelly das Panteras ou se ficasse rodopiando se transformaria na Mulher Maravilha.
No sábado tinha Chacrinha. Ella quis ser chacrete (gente, todo mundo tem um lado B!) e achava linda aquela coreografia! kkk. Imitava a Gretchen, cantava Sandra Rosa Madalena e achava o Sidney Magal o máximo! No domingo tinha Silvio Santos, mas mamãe de Ella (muito centrada e culta) não deixava. De vez em quando, o espírito brega que assolava Ella, colocava sorrateiramente no canal 11 para ver a batalha emocionante do Trio Los Angeles com o Biafra no "Qual é a Música". “Pablo qual é a música?” E um traveco louro jogava os cabelos pra cantar. Ella também torcia para o menino da cabine sem som trocar uma bicicleta por uma caixa de fósforos: “Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmm”.
Domingo às 19 horas, os Trapalhões eram sagrados como a Missa. E no cinema também. Ella e seus primos ficavam duas horas na fila, no sol, sem reclamar até entrar no cinema para ver “Os Saltimbancos Trapalhões” ou “O Mágico de Oroz”. A música do Fantástico dava a triste notícia que o fim de semana tinha acabado.
Mas ao contrário das crianças de hoje que têm de ir ao Inglês, à natação e à Yoga, quando não estão na escola, o tempo livre era para fazer alguns deveres de casa, brincar e ser feliz.
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